Entenda a Endometriose: Sintomas, Diagnóstico e Tratamento para Mulheres

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A endometriose é uma condição que pode parecer complicada, mas vamos entender juntos o que ela realmente significa. Basicamente, é quando um tecido muito parecido com o endométrio, que é a camada que reveste o útero por dentro, começa a crescer em lugares fora do útero. Esse tecido “intruso” se comporta como se ainda estivesse lá dentro. Isso causa uma série de problemas e desconfortos para muitas mulheres em idade reprodutiva. É uma doença crônica, o que significa que pode durar muito tempo. Também é inflamatória, porque causa inflamação onde esses focos de tecido se instalam.

Entendendo o Endométrio e o Problema

Para entender a endometriose, primeiro precisamos saber o que é o endométrio. O endométrio é o tecido que fica dentro do útero. Todo mês, ele fica mais grosso para se preparar para uma possível gravidez. Se a gravidez não acontece, esse tecido descama e sai do corpo como menstruação. É um ciclo natural e importante para a saúde reprodutiva da mulher. O problema da endometriose começa quando um tecido muito semelhante a esse endométrio decide crescer em outros lugares do corpo. Ele pode aparecer nos ovários, nas trompas de Falópio, ou na parte de fora do útero. Pode surgir até mesmo em órgãos próximos como o intestino e a bexiga. Em casos mais raros, pode ser encontrado em locais distantes, como os pulmões.

Como a Endometriose se Comporta Fora do Útero?

Agora, imagine esse tecido, que deveria estar só dentro do útero, crescendo em outros lugares. Mesmo estando fora do lugar certo, ele continua respondendo aos hormônios do ciclo menstrual, como o estrogênio. Isso quer dizer que, todo mês, esse tecido “ectópico” (que significa fora do lugar) também engrossa. Ele se desfaz e tenta sangrar, assim como o endométrio normal. Só que tem um grande problema: esse sangue e tecido não têm por onde sair do corpo. Diferente da menstruação que sai pela vagina, esse sangramento interno fica preso. Esse processo repetitivo, mês após mês, é o que causa os principais problemas da endometriose.

Esse sangue preso e o tecido descamado podem irritar os órgãos e tecidos ao redor. Essa irritação leva à inflamação crônica, que é uma das marcas registradas da doença. Com o tempo, essa inflamação pode causar dor intensa. Essa dor muitas vezes é o sintoma mais debilitante da endometriose. Além da dor, o corpo pode tentar se curar formando tecido cicatricial, conhecido como aderências. Essas aderências são como teias de aranha fibrosas. Elas podem grudar órgãos uns nos outros, como o intestino no útero, ou as trompas nos ovários. Isso pode distorcer a anatomia normal da pelve e causar mais dor. Também pode levar a problemas de infertilidade.

Onde a Endometriose Pode Aparecer?

Os focos de endometriose podem se instalar em diversos locais da pelve e, mais raramente, fora dela. Os lugares mais comuns incluem:

  • Ovários: Quando a endometriose cresce nos ovários, podem se formar cistos. Estes cistos são cheios de um líquido escuro, parecido com chocolate. Eles são chamados de endometriomas ou “cistos de chocolate”. Podem causar dor e afetar a função dos ovários.
  • Trompas de Falópio: O tecido endometrial nas trompas pode causar inflamação e bloqueios. Isso dificulta a passagem do óvulo e do espermatozoide. É uma causa comum de infertilidade.
  • Superfície externa do útero: Focos na parede externa do útero podem causar dor, especialmente durante a menstruação.
  • Ligamentos que sustentam o útero: Esses ligamentos são ricos em nervos. A endometriose neles pode causar dor pélvica crônica. Também pode causar dor durante a relação sexual.
  • Peritônio pélvico: É o revestimento da cavidade pélvica. É um local muito comum para implantes superficiais de endometriose.
  • Intestino: Especialmente o reto e o sigmoide. Pode causar dor ao evacuar, diarreia, constipação, e sangramento nas fezes durante a menstruação.
  • Bexiga: Pode causar dor ao urinar, urgência para urinar, e sangue na urina. Isso acontece principalmente no período menstrual.
  • Outros locais: Embora menos comum, a endometriose pode afetar o diafragma. Também pode surgir nos pulmões, em cicatrizes cirúrgicas e até mesmo no cérebro.

É importante notar que a quantidade de endometriose não se relaciona diretamente com a intensidade da dor. Algumas mulheres com poucos focos podem sentir muita dor. Outras com endometriose extensa podem ter poucos ou nenhum sintoma. Isso torna a doença ainda mais complexa e individualizada.

Por Que a Endometriose Acontece? As Teorias

A causa exata da endometriose ainda não é totalmente conhecida pela ciência. Mas existem várias teorias que tentam explicar por que ela surge. Nenhuma delas, sozinha, explica todos os casos. É provável que a doença seja resultado de uma combinação de fatores. Vamos conhecer as principais ideias:

  • Menstruação Retrógrada: Essa é a teoria mais antiga e conhecida. Ela sugere que, durante a menstruação, um pouco do sangue menstrual flui para trás. Esse sangue contém células do endométrio. Ele sobe pelas trompas de Falópio e cai na cavidade pélvica, em vez de sair completamente pela vagina. Essas células poderiam então se implantar nos órgãos pélvicos e começar a crescer. Embora a menstruação retrógrada aconteça com muitas mulheres, nem todas desenvolvem endometriose. Isso indica que outros fatores estão envolvidos.
  • Metaplasia Celular: Essa teoria propõe que células que revestem os órgãos pélvicos podem se transformar. Essas células peritoneais ou outras células fora do útero se transformariam espontaneamente em células endometriais. Essa transformação poderia ser desencadeada por fatores hormonais, como o estrogênio, ou por fatores inflamatórios.
  • Disseminação Linfática ou Vascular: Algumas pesquisas sugerem que células do endométrio podem viajar pelo corpo. Elas usariam os vasos sanguíneos ou o sistema linfático, como se fossem “sementes” se espalhando. Isso poderia explicar como a endometriose aparece em órgãos distantes, como os pulmões.
  • Fatores Imunológicos: O sistema imunológico normalmente reconhece e destrói células que estão no lugar errado. Na endometriose, pode haver uma falha nesse sistema. O corpo não conseguiria eliminar essas células endometriais que chegam à pelve. Isso permitiria que elas se implantem e cresçam. Além disso, o próprio sistema imune pode contribuir para a inflamação associada à doença.
  • Predisposição Genética: A endometriose parece ter um componente familiar. Mulheres que têm mães ou irmãs com a doença têm um risco maior de também desenvolvê-la. Isso sugere que certos genes podem tornar algumas mulheres mais suscetíveis.
  • Fatores Ambientais: Alguns estudos investigam se a exposição a certas toxinas ambientais poderia aumentar o risco. As dioxinas são um exemplo. Mas isso ainda precisa de mais confirmação.

Entender essas teorias nos ajuda a ver como a endometriose é uma condição multifatorial. Não é culpa da mulher e não é algo simples de explicar. É uma interação complexa entre hormônios, sistema imunológico, genética e, possivelmente, o ambiente.

Endometriose Não é Câncer, Mas Requer Atenção

É muito importante esclarecer que a endometriose é uma doença benigna. Ou seja, não é câncer. Os focos de endometriose não são tumores malignos. No entanto, ela pode ser muito invasiva. Pode crescer e infiltrar órgãos, causando dor crônica que afeta profundamente a qualidade de vida. Em casos raros, a endometriose profunda ou cistos ovarianos (endometriomas) podem estar associados a um risco ligeiramente aumentado de certos tipos de câncer de ovário. Mas isso é incomum. O principal impacto da endometriose é a dor, a inflamação e os problemas de fertilidade. Por isso, mesmo não sendo câncer, ela precisa ser levada a sério. Precisa ser diagnosticada corretamente e tratada de forma adequada para aliviar os sintomas e melhorar o bem-estar da mulher.

A jornada com a endometriose pode ser desafiadora, mas o primeiro passo é entender o que ela é. Saber que esse tecido endometrial fora do lugar é o responsável pelos sintomas ajuda a buscar o caminho certo para o diagnóstico e tratamento. Cada mulher vivencia a endometriose de uma forma única. O conhecimento é uma ferramenta poderosa para enfrentar essa condição e buscar uma vida com mais qualidade e menos dor.

Principais Sintomas da Endometriose

Os sintomas da endometriose podem variar muito de mulher para mulher. Algumas sentem dores fortes, enquanto outras podem ter poucos ou até nenhum sinal. É uma doença cheia de nuances, e entender seus possíveis sintomas é o primeiro passo para buscar ajuda e alívio. A dor é, sem dúvida, o sintoma mais falado, mas não é o único. Vamos explorar os principais sinais que podem indicar a presença da endometriose. Lembre-se, se você se identificar com vários deles, conversar com um médico é fundamental.

Dor Pélvica Crônica e Cólicas Menstruais Muito Fortes

A dor pélvica é talvez o sintoma mais característico da endometriose. Muitas mulheres experimentam cólicas menstruais, conhecidas como dismenorreia, que são muito mais intensas do que o normal. Não é aquela cólica leve que melhora com um analgésico comum. Estamos falando de uma dor que pode ser incapacitante, impedindo de ir ao trabalho, à escola ou de realizar atividades do dia a dia. Essa dor pode começar dias antes da menstruação e continuar por vários dias depois que ela termina. Além da dor durante o período menstrual, muitas mulheres com endometriose sentem uma dor pélvica crônica, ou seja, uma dor que está presente mesmo fora do ciclo menstrual. Pode ser uma dor constante, uma sensação de peso ou pontadas na região pélvica. Essa dor acontece porque os focos de endometriose, que são tecido parecido com o do útero fora do lugar, inflamam e irritam os nervos e órgãos da pelve.

Dor Durante ou Após a Relação Sexual

Outro sintoma comum e muito incômodo é a dor durante ou após a relação sexual, chamada de dispareunia. Geralmente, é uma dor profunda na pelve, não na entrada da vagina. Isso pode acontecer porque os focos de endometriose estão localizados em áreas que são movimentadas durante a relação, como os ligamentos que sustentam o útero, o fundo da vagina ou atrás do colo do útero. As aderências, que são como cicatrizes internas causadas pela endometriose, também podem repuxar os órgãos, causando dor. Esse sintoma pode afetar muito a intimidade e a qualidade de vida da mulher e do casal. É importante falar sobre isso com o médico, pois existem formas de aliviar esse desconforto.

Dor ao Urinar ou Evacuar

Se a endometriose atingir a bexiga ou o intestino, podem surgir dores ao urinar (disúria) ou ao evacuar (disquezia). Esses sintomas costumam piorar durante o período menstrual. Quando a bexiga é afetada, a mulher pode sentir dor ao encher ou esvaziar a bexiga, vontade de urinar com mais frequência e urgência. Pode até haver sangue na urina, embora seja mais raro. Se o intestino estiver comprometido, os sintomas podem incluir dor ao evacuar, constipação, diarreia, inchaço abdominal e, às vezes, sangramento nas fezes, principalmente durante a menstruação. Muitas vezes, esses sintomas são confundidos com infecção urinária ou síndrome do intestino irritável, o que pode atrasar o diagnóstico correto da endometriose.

Sangramento Menstrual Intenso ou Irregular

Alterações no fluxo menstrual também podem ser um sinal de endometriose. Algumas mulheres relatam ter um sangramento menstrual muito intenso (menorragia), precisando trocar o absorvente com muita frequência ou usando muitos por dia. A presença de coágulos grandes também pode ser um indicativo. Além disso, pode haver sangramentos irregulares, como escapes ou sangramento entre uma menstruação e outra. Embora a endometriose em si não cause diretamente o sangramento excessivo dentro do útero, ela pode estar associada a outras condições, como a adenomiose (quando o tecido endometrial cresce dentro da parede muscular do útero), que frequentemente causa sangramento aumentado.

Infertilidade ou Dificuldade para Engravidar

A infertilidade é um dos impactos mais sérios da endometriose. Estima-se que entre 30% a 50% das mulheres com endometriose tenham dificuldade para engravidar. A doença pode afetar a fertilidade de várias maneiras. As aderências podem distorcer a anatomia da pelve, bloqueando as trompas de Falópio e impedindo o encontro do óvulo com o espermatozoide. Os endometriomas, que são cistos de endometriose nos ovários, podem prejudicar a qualidade dos óvulos ou a ovulação. Além disso, a inflamação crônica causada pela endometriose na pelve cria um ambiente hostil para os espermatozoides, para a fertilização e para a implantação do embrião. Muitas vezes, a endometriose só é descoberta quando a mulher começa a investigar por que não consegue engravidar.

Fadiga Crônica e Falta de Energia

Sentir um cansaço extremo, que não melhora mesmo com descanso, é outro sintoma que pode estar ligado à endometriose. Essa fadiga crônica pode ser debilitante. O corpo está constantemente lidando com a inflamação e a dor, e isso consome muita energia. Além disso, a dor crônica em si pode levar à exaustão física e mental. A qualidade do sono também pode ser afetada pela dor, contribuindo para o cansaço. Esse sintoma muitas vezes é subestimado, mas impacta significativamente a capacidade da mulher de levar uma vida normal.

Sintomas Gastrointestinais

Muitas mulheres com endometriose relatam problemas gastrointestinais, como inchaço abdominal (a famosa “barriga de endo”), náuseas, diarreia ou constipação. Esses sintomas podem piorar perto do período menstrual. Como mencionado antes, isso pode acontecer se houver focos de endometriose no intestino ou se a inflamação pélvica afetar o funcionamento do sistema digestivo. A semelhança com os sintomas da síndrome do intestino irritável (SII) faz com que muitas mulheres recebam esse diagnóstico inicialmente, atrasando a identificação da endometriose.

Dor Lombar

A dor na região lombar, ou seja, na parte de baixo das costas, também pode ser um sintoma. Isso pode ocorrer se os focos de endometriose estiverem localizados nos ligamentos útero-sacros, que conectam o útero à parte de trás da pelve, ou se houver inflamação que irradia para essa área. A dor lombar associada à endometriose geralmente piora durante a menstruação.

É crucial entender que nem toda mulher com endometriose terá todos esses sintomas. A intensidade e a combinação dos sinais variam enormemente. Algumas podem ter apenas um ou dois sintomas leves, enquanto outras enfrentam um quadro muito mais complexo e doloroso. O importante é não normalizar a dor intensa e procurar um ginecologista especializado se suspeitar de endometriose. Um diagnóstico precoce pode fazer toda a diferença no manejo da doença e na qualidade de vida.

A endometriose é uma doença que pode trazer muitos desafios, e um dos mais preocupantes para muitas mulheres é o seu impacto na fertilidade. Não é toda mulher com endometriose que terá dificuldade para engravidar, mas a condição é, sim, uma causa importante de infertilidade feminina. Entender como a endometriose afeta a capacidade de conceber é fundamental para buscar as melhores estratégias e tratamentos. Vamos explorar os diferentes jeitos pelos quais essa doença pode atrapalhar o sonho de ter um filho.

Como a Endometriose Dificulta a Gravidez?

A endometriose pode interferir na fertilidade de várias maneiras, desde problemas físicos nos órgãos reprodutivos até alterações no ambiente interno da pelve. A gravidade da doença, o local onde os focos de endometriose estão e como o corpo da mulher reage a eles, tudo isso influencia.

Aderências e Distorção da Anatomia Pélvica

Um dos principais problemas causados pela endometriose são as aderências. Lembra que a endometriose causa inflamação? Pois bem, o corpo, na tentativa de se curar dessa inflamação crônica, pode formar tecido cicatricial. Essas cicatrizes são as aderências. Elas são como teias de aranha fibrosas que podem grudar os órgãos uns nos outros. Imagine as trompas de Falópio, que são os canais por onde o óvulo viaja do ovário até o útero, presas ou torcidas por essas aderências. Isso pode bloquear a passagem do óvulo ou impedir que a trompa consiga capturar o óvulo liberado pelo ovário. As aderências também podem envolver os ovários, dificultando a liberação do óvulo. Em casos mais severos, toda a anatomia da pelve pode ficar distorcida, tornando a concepção natural muito difícil.

Endometriomas: Cistos nos Ovários

Quando a endometriose atinge os ovários, podem se formar cistos chamados endometriomas, também conhecidos como “cistos de chocolate” por causa da sua aparência. Esses cistos contêm sangue antigo e tecido endometrial. A presença de endometriomas pode ser um grande problema para a fertilidade. Eles podem danificar o tecido ovariano saudável ao redor, diminuindo a quantidade de óvulos disponíveis (a chamada reserva ovariana). Além disso, a qualidade dos óvulos que restam pode ser afetada pela inflamação e pelas substâncias tóxicas presentes dentro do cisto e no ovário. Um ovário que não funciona bem, seja por causa dos cistos ou da cirurgia para removê-los, compromete seriamente as chances de gravidez.

Inflamação e Ambiente Pélvico Hostil

A endometriose é uma doença inflamatória. Essa inflamação crônica na pelve cria um ambiente que não é nada amigável para a reprodução. As substâncias inflamatórias liberadas (como citocinas e prostaglandinas) podem afetar negativamente os espermatozoides, diminuindo sua capacidade de nadar e fertilizar o óvulo. Essas substâncias também podem prejudicar a qualidade do óvulo e o desenvolvimento do embrião. O próprio líquido peritoneal, que é o fluido que existe na cavidade pélvica, pode conter esses componentes inflamatórios, tornando todo o ambiente menos propício para a concepção e para a implantação do embrião no útero.

Problemas com as Trompas de Falópio

Mesmo que as trompas não estejam completamente bloqueadas por aderências, a endometriose pode afetar seu funcionamento. A inflamação pode danificar as fímbrias, que são como pequenos “dedos” na ponta da trompa responsáveis por capturar o óvulo quando ele é liberado pelo ovário. Se as fímbrias não funcionam bem, o óvulo pode se perder na cavidade pélvica. Além disso, a motilidade da trompa, ou seja, sua capacidade de se contrair para levar o óvulo (ou o embrião) em direção ao útero, também pode estar comprometida pela inflamação ou por focos de endometriose na própria trompa.

Qualidade dos Óvulos e Reserva Ovariana

Como já mencionamos, a endometriose, especialmente quando há endometriomas, pode impactar tanto a quantidade (reserva ovariana) quanto a qualidade dos óvulos. A inflamação crônica e o estresse oxidativo (um desequilíbrio químico) no ambiente ovariano podem levar a danos no DNA dos óvulos. Óvulos de pior qualidade têm menos chance de serem fertilizados corretamente e de se desenvolverem em embriões saudáveis, capazes de gerar uma gravidez.

Alterações na Implantação do Embrião

Mesmo que a fertilização ocorra e um embrião seja formado, a endometriose pode dificultar a sua implantação no revestimento do útero (o endométrio). Estudos sugerem que mulheres com endometriose podem ter alterações na receptividade endometrial. Isso significa que o endométrio pode não estar preparado adequadamente para receber o embrião. Pode haver uma resistência à progesterona, um hormônio essencial para preparar o endométrio para a gravidez e para mantê-la. Se o “terreno” não está bom, o embrião não consegue se fixar e se desenvolver.

Sistema Imunológico e Fertilidade

O sistema imunológico também parece ter um papel na relação entre endometriose e infertilidade. Em algumas mulheres, o sistema imune pode reagir de forma exagerada ou inadequada. Pode haver uma produção aumentada de certas células imunes ou substâncias que, em vez de protegerem, acabam atacando os espermatozoides ou o embrião, ou simplesmente criando um ambiente inflamatório que impede a gravidez.

A Gravidade da Endometriose Importa?

Geralmente, quanto mais grave a endometriose (estágios III e IV, com muitas aderências e/ou endometriomas grandes), maiores são as chances de infertilidade. Nesses casos, a anatomia pélvica pode estar muito comprometida. No entanto, é importante saber que mesmo mulheres com endometriose mínima ou leve (estágios I e II) podem ter dificuldade para engravidar. Isso acontece porque, mesmo com poucos focos visíveis, a inflamação e as alterações no ambiente pélvico podem estar presentes e afetando a fertilidade. Por outro lado, algumas mulheres com endometriose, até mesmo formas mais avançadas, conseguem engravidar naturalmente sem problemas. É uma doença muito individual.

Se você tem endometriose e está preocupada com a fertilidade, o mais importante é conversar com um médico especialista em endometriose e, se necessário, com um especialista em reprodução humana. Existem tratamentos para a endometriose que podem melhorar a dor e, em alguns casos, as chances de gravidez. Além disso, as técnicas de reprodução assistida, como a fertilização in vitro (FIV), podem ser uma opção muito eficaz para muitas mulheres com endometriose que desejam engravidar. Cada caso é único, e o acompanhamento médico é essencial para definir o melhor caminho.

Tratamento e Diagnóstico da Endometriose

Descobrir que se tem endometriose e entender como tratá-la pode parecer uma jornada longa. Mas, com as informações certas e o acompanhamento médico adequado, é possível encontrar alívio para os sintomas e melhorar muito a qualidade de vida. O diagnóstico da endometriose nem sempre é rápido, e o tratamento é muito individualizado, ou seja, o que funciona para uma mulher pode não ser o ideal para outra. Vamos entender melhor como os médicos chegam ao diagnóstico e quais são as principais formas de tratamento disponíveis.

Como é Feito o Diagnóstico da Endometriose?

O caminho para o diagnóstico da endometriose geralmente começa com uma boa conversa com o ginecologista. É muito importante contar em detalhes todos os seus sintomas: como são suas cólicas, se sente dor na relação sexual, se tem problemas para urinar ou evacuar, especialmente durante a menstruação, e se está tentando engravidar sem sucesso. O médico também vai perguntar sobre seu histórico de saúde e se há casos de endometriose na sua família.

Depois da conversa, o médico fará um exame físico ginecológico. Durante o exame de toque vaginal, ele pode sentir nódulos ou áreas sensíveis atrás do útero e nos ligamentos que o sustentam, o que pode levantar a suspeita da doença. No entanto, um exame físico normal não descarta a endometriose, especialmente se ela for superficial.

Para ajudar a confirmar a suspeita, o médico pode pedir alguns exames de imagem:

  • Ultrassonografia transvaginal com preparo intestinal: Este é um exame muito importante e cada vez mais usado. É uma ultrassonografia especial, feita com um aparelho introduzido na vagina, que permite ver bem o útero, os ovários e as áreas ao redor. O “preparo intestinal” significa que você precisará fazer uma pequena limpeza no intestino antes do exame, geralmente com laxantes leves. Isso ajuda a esvaziar o intestino para que o médico consiga visualizar melhor possíveis focos de endometriose profunda, especialmente aqueles que podem estar infiltrando o intestino ou outros órgãos pélvicos. Um profissional experiente nesse tipo de ultrassom pode identificar muitos sinais da doença.
  • Ressonância magnética da pelve: A ressonância é outro exame de imagem que pode ser muito útil, principalmente para mapear a extensão da endometriose profunda, quando ela atinge órgãos como intestino, bexiga ou ligamentos mais profundos. Ela também ajuda a ver endometriomas (cistos de endometriose nos ovários) e aderências. Geralmente, a ressonância é pedida quando o ultrassom não foi conclusivo ou para planejar uma cirurgia mais complexa.

Em alguns casos, mesmo com esses exames, o diagnóstico pode não ser 100% certo. O único jeito de ter certeza absoluta da endometriose é através da laparoscopia. A laparoscopia é uma cirurgia minimamente invasiva. O médico faz pequenos cortes na barriga e insere uma câmera fina e instrumentos cirúrgicos. Com a câmera, ele consegue olhar diretamente dentro da pelve, ver os focos de endometriose, verificar a extensão da doença e, se necessário, retirar amostras de tecido (biópsia) para confirmar no laboratório. Hoje em dia, a laparoscopia não é feita só para diagnosticar. Se a cirurgia for indicada, o médico já aproveita para tratar a endometriose, removendo os focos e as aderências.

É importante dizer que o diagnóstico da endometriose pode levar tempo, às vezes anos. Muitas mulheres passam por vários médicos até receberem o diagnóstico correto. Por isso, se você suspeita que tem endometriose, procurar um ginecologista especialista na doença pode fazer toda a diferença.

Quais são os Tratamentos para Endometriose?

Não existe uma cura definitiva para a endometriose, mas existem tratamentos muito eficazes para controlar os sintomas, reduzir os focos da doença e melhorar a qualidade de vida. O tratamento é sempre personalizado, levando em conta a idade da mulher, a intensidade dos sintomas, se ela deseja engravidar, a localização e a gravidade da endometriose.

Os principais objetivos do tratamento são:

  • Aliviar a dor.
  • Reduzir ou eliminar os focos de endometriose.
  • Preservar ou melhorar a fertilidade, se a mulher desejar engravidar.
  • Evitar que a doença progrida.

Existem basicamente duas linhas de tratamento: o clínico (com medicamentos) e o cirúrgico.

Tratamento Clínico (Medicamentoso)

O tratamento com remédios é geralmente a primeira opção para controlar a dor e tentar frear o avanço da doença. As principais opções são:

  • Analgésicos e anti-inflamatórios não esteroides (AINEs): Como o ibuprofeno ou o naproxeno, ajudam a aliviar as cólicas e a dor. Eles não tratam a endometriose em si, mas controlam os sintomas.
  • Contraceptivos hormonais: São a base do tratamento clínico para muitas mulheres. Podem ser pílulas anticoncepcionais combinadas (estrogênio e progesterona) ou apenas com progesterona, DIU hormonal (como o Mirena), implantes subcutâneos de progesterona ou injeções. A ideia é suspender a menstruação ou reduzir muito o fluxo. Como a endometriose é “alimentada” pelo estrogênio e piora com a menstruação, ao bloquear esse ciclo, os focos tendem a diminuir de atividade e a dor melhora. Muitas vezes, o uso é contínuo, sem pausas para menstruar.
  • Progestagênios isolados: Medicamentos como o dienogeste são específicos para o tratamento da endometriose e têm mostrado bons resultados na redução da dor e das lesões, com menos efeitos colaterais que outras opções hormonais mais antigas.
  • Análogos do GnRH: São medicamentos mais potentes que bloqueiam a produção de hormônios pelos ovários, induzindo um estado temporário de “menopausa química”. Eles são muito eficazes para reduzir a dor e os focos de endometriose, mas podem causar efeitos colaterais da menopausa, como ondas de calor e ressecamento vaginal. Por isso, geralmente são usados por um período limitado (alguns meses) e, às vezes, com uma “terapia de add-back” (reposição de baixas doses de hormônio) para aliviar os efeitos colaterais.

Tratamento Cirúrgico

A cirurgia, geralmente a laparoscopia, é indicada em algumas situações:

  • Quando o tratamento clínico não alivia a dor o suficiente.
  • Quando há endometriomas grandes nos ovários.
  • Quando a endometriose está causando obstrução no intestino ou nas vias urinárias.
  • Em alguns casos de infertilidade, para remover aderências ou desobstruir trompas.
  • Para tratar a endometriose profunda infiltrativa, que atinge outros órgãos.

O objetivo da cirurgia é remover o máximo possível dos focos de endometriose, cistos e aderências, preservando os órgãos reprodutivos, especialmente se a mulher ainda deseja engravidar. É fundamental que a cirurgia seja feita por um cirurgião experiente em endometriose, pois é um procedimento delicado. Uma cirurgia bem feita pode trazer um alívio significativo da dor e melhorar as chances de gravidez. Em casos muito raros e extremos, em mulheres que já têm filhos e não desejam mais engravidar, e que sofrem com dor incapacitante que não melhora com outros tratamentos, pode-se considerar a histerectomia (retirada do útero) e, às vezes, a retirada dos ovários. Mas essa é uma decisão muito séria e menos comum.

Tratamentos Complementares e Mudanças no Estilo de Vida

Além dos tratamentos médicos e cirúrgicos, algumas abordagens complementares e mudanças no estilo de vida podem ajudar muito no controle dos sintomas da endometriose:

  • Fisioterapia pélvica: Pode ajudar a relaxar os músculos da pelve, que muitas vezes ficam tensos por causa da dor crônica, aliviando a dor e melhorando a função sexual.
  • Acupuntura: Algumas mulheres relatam melhora da dor com sessões de acupuntura.
  • Alimentação: Uma dieta anti-inflamatória, rica em frutas, verduras, grãos integrais e gorduras boas, e pobre em alimentos processados, carne vermelha e açúcar, pode ajudar a reduzir a inflamação no corpo.
  • Exercício físico regular: Ajuda a liberar endorfinas, que são analgésicos naturais, e pode melhorar o bem-estar geral.
  • Apoio psicológico: Lidar com uma doença crônica e dolorosa como a endometriose pode ser muito desgastante emocionalmente. Terapia e grupos de apoio podem ser muito importantes.

O tratamento da endometriose é um processo contínuo. Mesmo após a cirurgia ou com o uso de medicamentos, é preciso acompanhamento médico regular. Encontrar a combinação certa de tratamentos que funcione para você é a chave para viver bem com a endometriose.

Dra Renata Fhurmann - Farmacêutica

Dra Renata Fhurmann - Farmacêutica

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